Seu marido havia ligado pouco antes, estava preocupado com a
demora da esposa, ela o acalmou dizendo que só precisava esperar algumas
autoridades para entrega de alguns relatórios. Absteve-se de dar maiores
detalhes, até por que, ela mesma não sabia o que havia se passado ali. Ainda se
perguntava se o que tinha visto era real.
Aquela mulher aparentava ser normal, mas ao lembrar-se dos
olhos dela, Isabela percebeu que não era bem assim. A invasora tinha força
sobre-humana com certeza, mas as suas feições transmitiam a grande tristeza que
carregava no coração. O homem que morreu devia ser bem próximo dela, talvez
amante ou então o seu irmão. O que mais lhe intrigava não era a força ou a
relação dela com o defunto, mas a forma como entrou no laboratório sem ser
percebida. A única explicação viável seria ela ter entrado voando, mas era algo
que não passava pela cabeça de Isabela, mesmo assim arriscou uma olhada ao
teto, só para constatar que os dutos do ar-condicionado estavam todos intactos.
Sem chance.
O interfone tocou despertando Isabela de seu torpor, supondo
que fossem os Agentes que aguardava, endireitou-se na cadeira, aprumou os
ombros e encarou através da janela da porta a sua frente.
Levantou-se para
recebê-los e então eles foram surpreendidos, derrubados e não mais se ergueram.
Na curiosidade de saber o que tinha acontecido, Isabela não se preocupou com o
perigo e correu até a porta. Pela mesma janela viu dois homens, ainda maiores do
que aquele que examinara horas atrás, aparentavam ser tão fortes quanto, mas
não transmitiam tranqüilidade e serenidade, muito pelo contrário, davam medo só
de olhar.
Apavorada, e finalmente temendo por sua vida, a doutora
abaixou-se e correu em direção a uma saleta contigua a sua bem a tempo de
escapar dos olhos frios dos novos invasores.
Os estranhos se dirigiram para dentro do recinto. Arrancaram
a porta do saguão de entrada, trás da qual ela estivera segundos antes. Sem se
preocuparem em serem contidos os dois brutamontes reviraram todo o lugar como
se procurassem algo. Enraiveciam-se ainda mais á medida que a busca mostrava-se
infrutífera. Isabela, respiração suspensa, observava tudo através da fechadura da
sala inativa, ao fundo do laboratório, que agora lhe servia de refúgio.
Em dado momento os homens pararam com a destruição e
entreolharam-se. Movimentaram as cabeças de um lado para o outro, as narinas
dilatadas parecendo farejadores em ação. Sentiam a presença de alguém e
voltaram a vasculhar o local, aproximando-se cada vez mais da sala onde estava
a doutora. Percebendo o perigo que passava, Isabela começou a procurar um novo
lugar para se esconder, era evidente que em pouco tempo seria encontrada, se
ali permanecesse. Talvez, por causa do pânico que lhe embotava a mente, não
encontrava um novo refúgio, estava cada vez mais aterrorizada. Esgueirando-se até
um canto da sala escura, comprimiu-se o mais
que pode contra a parede, tendo apenas um frágil e velho armário como escudo, e
foi quando viu a porta da sala ser atirada contra a parede a sua frente. Apertou
a mão contra a boca para evitar que seu grito escapasse. Não podia ser vista da
nova abertura, mas era questão de segundos para tal.
Viu as sombras imensas dos dois se projetarem onde estava a porta destroçada. O medo em seu rosto era
eminente. Isabela fechou os olhos sem saber o que aconteceria dali em diante, sua
mente estava vazia, nada sentia, apenas apertou mais os olhos e aguardou pelo
que viria á seguir. Passaram-se alguns segundos, nada aconteceu. Não ouviu
passos, não sentiu aproximação de ninguém. Ainda temerosa voltou a abrir os
olhos e nada viu, virou-se para a porta e lá também não viu ninguém.
Receosa, engatinhou
até a porta que separava a saleta de sua sala oficial e espiou ao redor. Nada.
Pôs-se de pé cautelosamente e esperou, como não ouviu nenhum ruído arriscou andar
pelo laboratório, vendo tudo destroçado, sabia que o lugar precisaria ser
fechado por alguns dias para poder voltar a funcionar normalmente, o pensamento
absurdo de que aquela devastação em seu laboratório lhe renderia alguns dias de
férias, não a animou em absoluto.
Ouviu o toque
característico de seu celular anunciando uma chamada. Desesperada vasculhou
entre os destroços e o encontrou sob os escombros de sua mesa arruinada. Recuperou
o aparelho que milagrosamente havia sobrevivido á fúria dos visitantes
misteriosos, só para descobrir que era outra vez o seu marido.
- Você ainda irá se demorar por aí? – a voz suave de Roni
serviu-lhe de calmante. Era tão bom poder voltar a ouvi-lo, ainda mais depois
de ter pensado que nunca mais o faria.
- Eu já terminei aqui. Você poderia vir me buscar? – ela
mesma estranhou o quanto sua voz soou tremula ao formular o pedido.
- Está tudo bem Isabela? – perguntou preocupado.
Roni era extremamente atencioso no que dizia respeito a sua
mulher. Sabia dizer, apenas com um olhar ou ao ouvir sua voz se algo estava ou
não errado com ela.
- Quando você chegar aqui explico melhor – foi a resposta
curta e tensa que ela lhe deu – Roni? Por favor, não demore muito está bem? – e
sem esperar pela resposta dele ela cortou a ligação.
Voltando a olhar em volta, vendo o estado lastimável em que
se encontrava seu local de trabalho, sentiu-se aliviada ao saber-se incólume. E
foi então que outro pensamento, tão assombroso quanto a destruição diante de
seus olhos, ocorreu-lhe, os homens, aqueles que haviam invadido seu laboratório
tal qual a mulher o fizera mais cedo, haviam sumido!
(Redação: Kátia Alexandre)
(Redação: Kátia Alexandre)