21 de novembro de 2011

Gaian e o Exército de Anjos - Parte 3: Desesperada por respostas


Isabela aguardava ansiosa a vinda de seu marido, para que finalmente pudesse ir para casa depois de tudo o que aconteceu. Para evitar o pânico, enquanto esperava tentava encontrar respostas plausíveis, para tantas perguntas que se formavam em sua mente pragmática. Sendo a principal delas o porquê de ainda estar viva! Ela com certeza respirava aliviada por isso, mas não fazia a mínima ideia do motivo que fez os invasores desistirem de encontrá-la.

Depois de mais um suspiro, cogitou que provavelmente teriam partido por já terem encontrado o quê vieram buscar... Porém não se convenceu muito disso, pois algo lhe dizia que o objetivo deles era o corpo do homem que havia chegado ao início daquela noite, mas que já havia sido tirado dali pela mulher misteriosa que os antecedera.

Muitas perguntas e nenhuma resposta. Ela estava completamente confusa, afinal por que aquele corpo era tão importante? Quem era aquele homem? E quem eram os tais invasores? Notou que eles tinham uma força descomunal, seria possível que não fossem humanos? Afastou tal pensamento tão logo ele surgiu. Não queria pensar nisso.

Naquele momento conturbado formulou um pedido, não sabia para quem o fazia nem se obteria resposta, mas pediu em voz alta para que “alguém” lhe explicasse tudo o que estava acontecendo, em detalhes de preferência, para poder se sentir mais tranqüila e menos doida, e enfim entender o que se passava.

Ouviu um barulho na entrada do laboratório, levantou-se tão rápido que quase voltou ao chão, mas foi amparada, por uma mão gentil que lhe evitou a queda.

- Quem é você? - pergunta assombrada ao estranho que surgiu a sua frente do nada. De novo!

- Por enquanto é melhor que não saiba, mas posso dizer que fui enviado em resposta ao seu pedido. - respondeu ele educadamente.

- Que ped... - Isabela parou abruptamente e o fitou de forma incrédula - Você veio para me trazer respostas? É isso o que está dizendo? – perguntou cética, muito embora seu coração estivesse a ponto de saltar do peito, tamanha sua aflição.

- Sim. Isso mesmo, mas não agora. Vou até a sua casa esta noite e farás uma viagem comigo, então lhe contarei tudo o que quer saber. – explicou reticente.

- Em minha casa? Viagem? - questionou aturdida, e então lhe lançou um olhar desconfiado - Por acaso anda me espionando? Sabe onde trabalho, onde moro... Por acaso você é algum dos homens da Segurança Nacional? Estou certa que nunca o vi antes – essa confirmação seguida de todas as suas novas perguntas não receberam mais do que um olhar sucinto do estranho.

- Querida! Você está bem? - Isabela ouviu, surpreendida, a voz de seu marido. Olhou para a entrada e viu Roni correndo pelo laboratório vindo em sua direção. Ele a abraçou forte, parecendo aliviado por encontrá-la aparentemente saudável.

Isabela correspondeu ao abraço, mas manteve-se calada, olhando por sobre o ombro do esposo não viu seu visitante misterioso com quem conversava minutos antes. Desprendendo-se do marido olhou ao redor só para ter confirmada sua suspeita de que mais uma vez, as perguntas aumentavam e as respostas não chegavam.

- Você deve estar apavorada, entendo se não conseguir falar agora. Vamos para casa, você descansará e quando se sentir pronta me conta o que aconteceu. - Ela olhou para seu marido, desconcertada e ainda sob o impacto dos últimos fatos que vivenciou apenas consentiu, com um gesto de cabeça, que ele a levasse dali.

Estava tão entretida em seus pensamentos que não havia notado a chegada dos policiais, que invadiram seu local de trabalho examinando minuciosamente cada recanto, procurando possíveis pistas. Do lado de fora ela pode ouvir a sirene que anunciava a chegada da ambulância, para resgatar os agentes da Segurança Nacional, mas infelizmente para eles já era tarde demais, não conseguiram sobreviver. Mais uma vez foi assaltada pela sensação de que havia sido poupada por alguma espécie de “milagre”, muito embora não acreditasse nisso. Era uma médica, e como tal sua mente racional se negava a dar crédito a esse tipo de coisa.

A imprensa já estava por toda parte, quando ela e o marido conseguiram em fim chegar á saída, quase todos correram em sua direção bombardeando-a com toda sorte de perguntas sobre o que acontecera naquela noite. Isabela não responde a nenhuma delas, até por que não as tinha. Então simplesmente fingiu que não os ouvia. Seu marido desesperado com o assédio, e visivelmente preocupado com ela, exigiu para que eles se afastassem e os deixassem em paz, mas eles ignoraram seu apelo aglomerando-se ainda mais á volta deles. Roni então abriu caminho entre eles aos empurrões até o carro que estava estacionado bem em frente ao laboratório.

Porém antes de entrar no carro Isabela ergue o rosto, olha para prédio onde exerce sua profissão há tempos e em seguida volta seus olhos para a multidão de repórteres a sua frente, que seguem crivando-lhe de perguntas, em sua maioria desconexas. Ela levanta a mão para apaziguar os ânimos exaltados, o que surte efeito, então os encara decidida.

- Se eu tivesse as respostas que vocês procuram, eu as daria, mas nem mesmo eu sei o que aconteceu aqui. Então peço que me perdoem por isso, e desejo a todos vocês uma boa noite – sem mais nada a dizer-lhes, entra no carro e respira aliviada por sentir-se segura afinal.

Estava fechando o cinto de segurança enquanto seu marido tomava seu lugar ao volante quando foram abordados por um homem alto, que se debruçou na janela do motorista identificou-se como Maicon Lazareno, detetive de polícia designado para o caso.

- Boa noite – sua voz forte invadiu o veículo – Gostaria de pedir que vocês seguissem até a delegacia. Precisamos ouvir a versão dos fatos do ponto de vista da Doutora Isabela, já que ela parece ser a única sobrevivente do ataque acontecido aqui – seu pedido soou mais como uma ordem a eles, e para que não restassem dúvidas sobre isso ele ainda acrescentou – eu mesmo os escoltarei até lá. Por favor, me sigam – e sem esperar por uma resposta, dirigiu-se a passos rápidos até sua viatura que estava estrategicamente parada em frente ao carro deles. 

Isabela apenas trocou um olhar aflito com o marido, antes de vê-lo ligar o carro e fazer exatamente o que o tal detetive havia pedido.
 
Quando chegaram a Central de Polícia, Isabela saiu do veículo e deparou-se com alguns carros da imprensa também estacionando logo atrás deles, olhou-os irritada, eles pareciam um bando de abutres sobre a carniça, a esse pensamento lembrou-se mais uma vez do corpo roubado do seu laboratório e estremeceu. Vindo em seu socorro, o detetive Maicon Lazareno juntamente com alguns policiais imediatamente confrontou os primeiros repórteres que, afoitos, tentavam achegar-se á Doutora Meyer, frustrando-lhes o intento, Maicon deixou que seus companheiros formassem uma barricada humana na escadaria que dava acesso ao prédio, enquanto ele próprio guiava o casal para dentro da delegacia.

Ao entrarem, o detetive levou-os direto a sua sala, gentilmente convidou-os a acomodarem-se, e antes de começar a conversa, ofereceu ao casal água e café. Isabela aceitou de prontidão a oferta de água, qualquer coisa para aliviar a secura em sua garganta seria bem vinda agora, já Roni simplesmente declinou, forçando-se a manter a educação, quando sua vontade era mandar o detetive as favas e levar sua mulher para casa, a fim de cuidá-la. Ainda que ela não demonstrasse claramente, podia notar-lhe o olhar preocupado e assustado, durante o trajeto até ali a surpreendeu várias vezes olhando pelo retrovisor, como se estivesse com medo de que alguém os seguisse, ele temia que ela acabasse entrando em choque antes que pudesse dar-lhe um calmante e pô-la na cama.

Ainda cismado com esse pensamento viu o detetive Lazareno voltar à sala com um copo plástico que ofereceu a sua esposa, que antes mesmo de terminar de agradecer já emborcava o seu conteúdo goela abaixo. Mais uma prova de que ela não estava bem. Normalmente Isabela era uma mulher calma e contida, aquele gesto de sorver a água de forma tão impaciente não combinava com ela.

Acompanhando o olhar que o marido mantinha cravado na Doutora Isabela, Lazareno aproveitou para introduzir a conversa, alegando de cara que não acreditava que ela pudesse ter algum envolvimento com os últimos acontecimentos, ante o olhar especulativo do casal afirmou que devido a algumas provas que já haviam sido encontradas ficou provado que o autor ou autores do crime deveriam ser muito fortes para causar tamanho estrago, todavia, precisava saber o que ela havia presenciado, pois era a única testemunha ocular dos fatos, mas não lhes deixou saber de suas dúvidas do por que ela havia sido poupada. Ele tinha dado uma boa olhada nos corpos dos dois funcionários da S.N., e podia jurar que o trabalho de acabar com eles tinham sido coisa de profissional.

- Bom, detetive, - adianta-se Isabela empertigando-se em sua cadeira - desconfio que não possa ser de grande ajuda em suas investigações, pois me refugiei no fundo de uma saleta do laboratório, assim vi rapidamente o que acontecia no corredor, fiquei trancada lá, tentando me esconder, tudo de que me lembro é do barulho infernal de coisas sendo quebradas. – ela o olhou com pesar, como se estivesse se sentindo culpada por não ter enfrentado os bandidos.

- Entendo, - o detetive tentou tranqüilizá-la sorrindo-lhe levemente - mas deixe-me lhe perguntar uma coisa, nós demos uma olhada nas câmeras de segurança... as gravações do dia são estranhamente interrompidas no momento em que a senhora recebe um corpo, a partir daí as câmeras parecem simplesmente terem parado de filmar, como se as filmagens tivessem sido editadas antes mesmo de serem gravadas. Em nenhum momento, doutora, as filmagens mostram a senhora buscando refugio. Não acha isso um tanto estranho? – ele a encarava inquiridor.

- Está acusando a minha mulher de alguma coisa? - pergunta insatisfeito o esposo de Isabela, que até então permanecia calado. Era um insulto tratarem uma pessoa traumatizada daquela maneira.

- Absolutamente não, senhor Meyer. Como eu disse, não creio que sua esposa tenha algum envolvimento, estou apenas expondo a vocês o que as imagens nos “disseram”. Achei que talvez ela pudesse lembrar de algo á respeito – soou com tom de voz apaziguador, não enganando Roni nem por um instante. Ele sabia o que o policial estava tentando fazer, mas antes que pudesse dizer algo mais, viu Isabela remexer-se inquieta ao seu lado, as duas mãos segurando sua cabeça, enquanto girava ela de um lado para o outro num movimento de negação.

- Eu não entendo, realmente. - demonstrando certa aflição, Isabela começa a expor suas primeiras percepções do que testemunhou - Como isso pode ser? Eu vi de relance os rostos dos invasores, eles não me pareciam estar preocupados em se esconderem, não usavam mascaras nem capuzes, e em nenhum momento os vi chegarem perto dos equipamentos de filmagem. – uma ruga de incompreensão franziu sua tez bonita antes de acrescentar - Da forma como surpreenderam os agentes federais e arrombaram a porta de entrada acredito que teriam destroçado as câmeras e não retirado partes das filmagens apenas. – afirmou convicta.

- Desculpe dizer, mas a Doutora me parece muito tranqüila depois de tudo pelo que passou essa noite... – disse reticente o detetive, tentando entender o que realmente se passava na cabeça de Isabela naquele momento.

Admirado, ele viu um brilho de lucidez e confiança perpassar os olhos de Isabela, ela aprumou os ombros e o encarou determinada.

- Sim. - confirmou a médica – Sou uma pessoa equilibrada, de certa forma me considero um pouco fria. Aprendi a ser assim por causa do meu trabalho. Minha profissão requer que tenhamos certa postura de distanciamento, por isso não costumo expor meus sentimentos facilmente. – ela o mantinha cativo em seu olhar onde ele podia ler a inteligência e sinceridade que o permeavam - Mas confesso que ainda me sinto muito apavorada com tudo o que passei essa noite detetive. Temo que não possa me esquecer disso tão cedo quanto gostaria. - completou Isabela.

Muito embora tivesse feito um belo discurso não sentiu que convencera a Lazareno. Aliás, nem ela mesma estava convencida de alguma coisa do que dissera, já que desconfiava que sua aparência apática a desmentia. A verdade é que não conseguia parar de pensar naqueles estranhos... No tipo de força sobre-humana que pareciam possuir, sem falar na habilidade extraordinária que tinham para surgir e sumir diante dos olhos dela... Simplesmente inexplicável. Tudo isso conflitava com todas as crenças dela. Uma vida inteira estudando para ser médica a havia tornado cética, ela não acreditava em nada que ela não pudesse explicar e comprovar de forma científica.

-Acho que já podemos ir, não é detetive? – Roni se pôs de pé, estendendo a mão para que a esposa se apoiasse nele e fizesse o mesmo.

- Por enquanto seria isso. Precisam que os acompanhe até em casa? - ofereceu-se o detetive Maicon, mas demonstrando certa relutância para tal.

- Não será necessário. - Roni descartou apressadamente - Ficaremos bem – disse já se dirigindo para a porta do escritório.

- Doutora Meyer, só mais uma coisa. – antes que eles tivessem transposto o batente da porta pararam e ambos olharam sobre seus ombros para a figura do detetive sentado atrás da escrivaninha – Onde ele está? – a pergunta simples soou desconexa para a mente lógica da médica.

- De quem o senhor está falando? – questionou-o confusa. Seu coração deu um sobressaltou, pois ela achou que talvez as câmeras tivessem gravado seu encontro com o homem misterioso que havia lhe prometido respostas.Ele a olhou profundamente por um longo tempo antes de voltar a falar.

- Do cadáver que a Senhora recebeu antes de o laboratório ter sido invadido – ele a viu retesar o corpo e passar a mão nervosa pelo cabelo – os agentes da perícia investigativa não encontraram nenhum outro corpo no local, além dos agentes federais mortos, ainda que as filmagens atestem que a senhora recebeu um tempos antes – ele a fitou atento.

Ela elevou seus olhos acuados para encontrar os do marido ao seu lado, que também a fitava com a mesma curiosidade que animava o detetive. Por algum motivo não se lembrou antes de contar sobre a mulher misteriosa que havia levado o corpo. E achou que agora não seria a hora certa para dizer ao detetive encarregado que, além dos assassinos outra pessoa havia invadido aquele mesmo local naquela mesma noite e levado consigo o corpo de um indigente cuja responsabilidade de cuidar estava á cargo da Segurança Nacional. Até por que quem acreditaria nela se dissesse que não sabia como ela havia surgido e muito menos como tinha sumido ante seus olhos? Noite difícil aquela, o melhor era deixar as coisas como estavam, isso sim.

- Eu não sei o que foi feito dele – seu tom de voz vacilou ligeiramente ao dar-lhe a resposta, o que o fez imaginar que, ou ela estava mentindo ou estava omitindo algo. Fosse como fosse, ele iria descobrir.

- Gostaria de pedir-lhe que a Senhora não deixe a cidade, sem nos avisar – disse levantando-se e indo até eles – É possível que se torne necessário uma nova conversa. Tudo bem? – seu riso simpático era a deixa para que o casal se fosse.



(Redação: Kátia Alexandre)


Um comentário:

  1. Oi!!

    Eu disse que viria não foi!? hehehe
    Passando só pra dizer o qto estou contente por poder ser útil de alguma forma!
    Você bem sabe o qto gosto dessa estória, e é com imenso prazer que á reviso!
    Então, só me resta dizer PARABÉNS por seu trablaho!

    Abraço,
    Key

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