16 de setembro de 2016

E se soubéssemos toda a verdade?

O que sabemos sobre nossas vidas parece tão pouco. Milhões de anos para a Terra se formar, para ser apenas mais um astro entre tantos outros.

Pensar que estamos sozinhos pode parecer egoísmo, mas ainda mais intrigante é perguntar: porque existimos?

Acreditamos e desacreditamos. Divino ou científico? Aquilo que não podemos explicar, costumamos dar o crédito para alguém superior, alguém onisciente e onipotente, mas e se esse alguém realmente existir?

Perguntas movem o mundo, disso sabemos. Com as perguntas certas, direcionadas ao foco certo, podemos entender mais do que apenas o científico, mas também aquilo que nos encanta de tão místico que possa ser.

E se realmente não estamos sozinhos, será que não estão mais próximos do que imaginamos? Somos capazes de tantos feitos, históricos por vezes, mas não sabemos explicar a nossa própria existência. Somos tão fortes, mas ao mesmo tempo tão fracos.

E se soubéssemos toda a verdade? Poderíamos suportar? Ou melhor, teria graça saber de toda a verdade?


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23 de setembro de 2013

Gaian e o Exército de Anjos - Parte 5: Apenas um Sonho


Vislumbrando um maravilhoso pôr do sol sobre uma imensa planície que reluzia a cor avermelhada, estava lá, Isabela. Sentada de braços cruzados e apoiados em seus joelhos, ao lado de uma árvore de copa larga. A feição era de satisfação. O dia estava chegando ao fim, aliás, um dia que ela nunca irá esquecer. Gabriel, um rapaz de índole marcante, muito esforçado e com sede de justiça, havia passado o dia com ela. Aquele era o primeiro de muitos que estavam por vir. Isabela fora designada a acompanha-lo no seu treinamento, no futuro tomaria o seu lugar e lideraria o exército.

De longe avistava os seus conterrâneos, alguns caminhando, outros sentados, mas todos contentes, esbanjando alegria. O sentimento de pura liberdade emanava de suas auras. Não fazia muito tempo que aquela realidade parecia distante. A guerra que fazia daquele lugar um mar de sangue havia acabado a pouco mais de duas décadas. Isabela liderou a equipe de arqueiros, todos se doavam não somente em nome da Luz, mas também por ela, que desde as eras remotas inspirava a confiança de todos. Uma líder nata.

A guerra que um dia assombrou a todos, já passou, agora era hora de se prepararem para o futuro. Para que a paz e a liberdade fossem mantidas, todos precisavam estar prontos para qualquer possibilidade de reinvestida do inimigo. Assim que os novos líderes estiverem formados, Isabela e os outros terão o seu lugar ao lado daquele que representa a crença dos homens.

Quando decidiu erguer-se e tomar o rumo de seu lar, ouviu um estrondo além do horizonte. Devido ao sobressalto, todas as cenas da guerra, que nunca abandonaram sua mente, lhe passaram diante de seus olhos. Piscou algumas vezes, tentou acreditar que não passava de um susto. O que viu diante de seus olhos não ajudou. Uma onda gigantesca de poeira se alastrou e tomou conta do cenário. Quando percebeu, já estava em meio aquele acúmulo de detrito esvoaçante.

Tentou correr, para qualquer direção, procurando alguém para que, juntos, pudessem descobrir o que estava acontecendo. Não encontrou ninguém. Correu para um lado, depois para o outro. O desespero aumentava, a poeira começava a entrar por suas narinas e seu corpo começava a se entregar. Sua visão embaçou. Caiu. Tentou erguer-se, ficou de joelhos, mas não conseguiu mais do que isso. Neste momento alguém a encontrou e a acudiu. Com a visão ofuscada, encontrou muita dificuldade em ver quem lhe tomava em seus braços, sem forças, desmaiou.

Quando Isabela recuperou a consciência, abriu os olhos vagamente e se deparou em um lugar sombrio, estava deitada sobre uma manta de folhagens, o lugar parecia uma caverna minúscula. O teto era baixo, não poderia se erguer por completo. Viu uma fresta, estreita, não acreditava que tivesse entrado por aquele espaço, precisaria ter pelo menos um metro a menos de altura para transpô-lo. Levou seus olhos através daquele buraco, viu somente devastação. Olhou para os lados, procurando outra saída, não encontrou. O lugar só lhe trazia lembranças taciturnas. A guerra parecia ter voltado. O temor em sua face era evidente, sentia que algo precisava ser feito, mas mal conseguia ficar de pé. Lembrou-se de ter sido socorrida, não sabia por quem. Uma mão tocou seu ombro, era aquele que fora seu companheiro em diversas batalhas. Seu nome, Gaian. Pediu para que esperasse mais um pouco, não imaginou que ela o atendesse, pois a conhecia.

- Estamos reunindo as tropas, logo virei lhe buscar. – ele não deu tempo para a resposta, deu de ombros e sumiu.

A destemida guerreira ficou de pé, pelo menos o tanto quanto o lugar lhe permitia, quase voltou ao chão, desnorteada, insistiu. Voltou a procurar por uma saída, logo percebeu que aquela fresta era a única. Tentou aumenta-la a pontapés, sem sucesso, usou a força de seus braços. Insuficiente. Caiu sentada, não tinha forças para sair daquele lugar. Tentava imaginar se conseguiria fazer algo para ajudar os outros depois que dali saísse. Percebeu que o pó inalado não era somente de terra. Algo entrou no seu pulmão e a impedia de usar suas forças.

Gaian voltou, apareceu em suas costas, mas ela não se surpreendeu, sabia que ele podia fazer aquilo. Ela também poderia, mas não no estado em que se encontrava. Segurando-lhe a mão, o amigo a levou com ele, se materializaram em um campo, que parecia de concentração. Outros estavam por lá, visivelmente em estado mais crítico que o dela. Um refúgio cercado de montanhas, onde aquilo que os enfraqueceu não chegara.

Alguns que, assim como Gaian, conseguiam manter-se imunes a nocividade daquela poeira, corriam para todos os lados, trazendo cada vez mais seres debilitados. Recuperando aos poucos as suas forças, Isabela começou a ajudar aqueles que aparentemente mais necessitavam. Com certeza, já se podia perceber, que o acontecido era algo novo. Nunca passaram por aquilo. Até parecia cenário de batalha biológica, assim como acontecia com frequência no Mundo de Eliseo, a casa dos homens.

Um a um Isabela ajudava. Aos poucos se recuperavam, porém, o número de enfermos aumentava ao invés de diminuir. Ouviu-se outro estrondo, bem distante dali, semelhante ao primeiro.

- O que foi isso? – Pergunta Isabela assutada.

- Já é o quinto e ainda não sabemos. – Gaian respondeu e saiu na busca de mais feridos.

Aquela informação deixou-a atordoada, só ouvira dois deles, mas já fora o quinto. O enorme refúgio já começava a parecer pequeno demais. Olhou para os lados e só enxergava medo e desolação. Muito diferente do que lembrava ter visto a poucas horas. A satisfação de sentir a liberdade e ver o povo em paz, foi sucumbida por um temor sombrio que deixava a todos desesperançosos.

Repentinamente Isabela acordou. Viu-se deitada em sua cama, ao lado de seu marido, Roni. Estava ofegante, úmida de suor. Sentou-se na beira da cama e começou a refletir, percebeu que tudo não passava de um sonho, ou um pesadelo. Parecia ser tão real que ficou difícil eliminar de sua mente.

-Será que ao invés de sonho, seriam lembranças de uma vida passada? - perguntou a si mesma.

Balançou a cabeça em sinal de negativo. Disse para si, em pensamento, que eram ilusões devido a inúmeras tolices que o homem desconhecido havia jogado em sua mente, na noite anterior.

Observou o relógio que estava na cômoda ao lado de sua cama, eram cinco horas da manhã. Levantou-se, pegou o roupão que estava dependurado na cabeceira da cama e cobriu a camisola de cetim que vestia. Dirigiu-se ao banheiro, lavou o rosto e por um minuto, permaneceu ali, imóvel, observand-se. Não sentia mais sono.

Foi até a cozinha, abriu a porta da geladeira, deu uma rápida olhada e pegando um prato de porcelana, cortou um pedaço da torta que Roni havia feito no final de semana. Percebeu que não tinha paladar, não sentiu o gosto doce daquilo que ingeriu. Pegou um copo d’água para aliviar a secura de sua garganta. Voltou ao quarto, deitou-se na cama e tentou voltar a dormir. Permaneceu com os olhos abertos, talvez por medo de voltar a ver aquele cenário de guerra, olhava para o teto, tentava não pensar em nada. Não conseguia.









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P.S.: Se você está acompanhando esta estória, gostaria que pudesse compartilhar e/ou deixar seu comentário.
Ficarei grato e saberei se estou indo bem, afinal somos todos aprendizes e aguardamos o retorno daqueles que nos cercam para saber o caminho a tomar.








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2 de dezembro de 2011

Gaian e o Exército de Anjos - Parte 4: A Revelação

Isabela, deitada confortavelmente em sua cama, olhava para o seu marido, deitado ao lado. Roni dormia como uma criança, um dia cansativo de trabalho somado aos episódios daquela noite, os deixara exaustos, mas, apesar disto, Isabela não conseguia conciliar o sono.

Ela poderia apenas esperar pelos resultados da investigação, mas algo lhe dizia que o detetive Lazareno não obteria respostas satisfatórias para os fatos ocorridos. E o que seria ainda pior, na intenção de encontrar um culpado, ela é que serviria de bode expiatório para cobrir o acontecido, mesmo que não tivesse motivos para tal. Aquele cadáver que recebera, com certeza era de uma importância que ela não podia imaginar, pois se não bastasse ele ser de interesse da Segurança Nacional, fora roubado por aquela mulher e não tardou a receber outros visitantes interessados nele.

Devido a essa importância, o detetive poderia “encontrar” um motivo plausível para que ela mesma tivesse causado o desaparecimento daquele corpo e todo aquele transtorno, talvez até julgassem que seu marido pudesse ser seu cúmplice. O nervosismo dele durante o depoimento poderia ser o suficiente para afirmar tal absurdo. Apesar de não ser verdade, seria difícil Isabela provar o contrário, portanto a preocupação dela com o caso só aumentou.

Pensar em uma explicação para o ocorrido era o que ocupava agora a mente da doutora, mas encontrar tal resposta já era algo muito longe de seu alcance. Isabela lembrou-se da forma como fora surpreendida por aquela gente estranha; primeiro a mulher que levou o corpo, depois os homens que mataram os agentes federais e devastaram o laboratório. Como se isso não bastasse, quando pensou que a sucessão de fatos bizarros havia findado, mais uma vez a surpreenderam. Desta vez, porém,  fora para ser socorrida, por aquele desconhecido que apareceu do nada.

Lembrando-se daquele homem, Isabela recordou o que ele havia dito, sobre passar em sua casa, naquela noite, para uma viagem. Embora a frase soasse um tanto estranha, até mesmo fantasiosa, ela, contrariando sua natureza cética, acreditou nele. O que importava para ela, era a promessa que o estranho havia feito, de lhe dar as respostas que precisava para acalmar a sua mente. No entanto, a sensação de que suas dúvidas só aumentariam, sem falar dos problemas que teria com sua família, por um estranho a tirar de casa no meio da noite, persistia fazendo com que seu peito afundasse em desespero.

- Para esta viagem, não precisarei lhe tirar de seu quarto. – a voz calma do tal estranho se fez ouvir pelo quarto.

Surpreendentemente o homem apareceu sentado em uma cadeira, no canto do quarto, como se a estivesse observando há horas.

- Você aqui? – apesar de estar assustada de morte, Isabela forçou sua voz sair, num murmúrio esganiçado. Ela levantou-se bruscamente, preocupada em não acordar o esposo, virou-se para ele a fim de constatar que permanecia imóvel.

Tentando controlar seu medo e assombro, voltou seus olhos perspicazes para seu visitante.

- Porque a surpresa? - pergunta o estranho - Eu lhe avisei que viria, para lhe trazer as respostas que tanto anseia – explicou conciso.

- Em primeiro lugar, quero saber quem é você. Como me conhece? Como sabe onde trabalho e moro?
Além disso, como sabe quais as respostas que procuro? - Isabela não deu tempo para o homem responder as perguntas feitas e logo lançou mais algumas - Me diga como você faz isso de sumir a aparecer sem mais nem menos e desde quando está aqui dentro? – Ela estava agitada, era visível seu desconforto ante aquela situação inusitada.

- Hãh... A qual indagação devo responder primeiro? - perguntou ironicamente o homem às sombras.

- Comece por qual quiser, apenas responda rápido, antes que eu acorde meu marido e ligamos para a
polícia. – ameaçou.

- Acalme-se doutora, sou apenas um velho amigo seu. Alguém que você conheceu há muitos anos atrás. – disse confiante.

- Amigo? Seu rosto não me é nenhum pouco familiar. Tenho certeza de nunca tê-lo visto antes dessa noite - respondeu convicta.

- Isabela? É assim que lhe chamam agora, verdade? - perguntou-lhe o estranho.

- Sim, esse é meu nome. Não me surpreende que saiba disso, depois de tudo que já me revelou saber. Mas se engana por pensar que já tive outro nome, Isabela é o meu nome de batismo, o carrego desde que nasci.
– argumentou com firmeza.

- Sim. Não foi isso que quis dizer. Isabela é seu nome desde que nasceu, mas isto na sua forma humana. – foi a resposta intrigante que ele lhe concedeu.

- Você deve estar louco. Forma humana? E que outra forma eu poderia ter? Você deve ser adepto daquelas religiões que acreditam em reencarnação. Nem sei como ainda permito sua presença em meu quarto.

- Bom, vai ser mais difícil do que imaginei. - o homem apoiou seus cotovelos sobre os joelhos, deixando as pernas entreabertas e levando seus olhos para o chão entre elas. - Vou tentar explicar de outra maneira.

- Melhor que seja convincente. Sou estudante de ciências, apesar de ser de família cristã, não acredito em divindades ou qualquer coisa do tipo, porém estou disposta a ouvir o que tem a dizer. Depois do que presenciei nas últimas horas acredito que há muitas coisas que eu ainda não tomei conhecimento. – ela apertou os dedos trêmulos no colo, assumindo uma postura de quem, de fato, estava pronta para ouvir.

- Isso já é um começo. - neste instante, o homem respirou fundo e começou - Vou começar me apresentando, me chamo Gaian, sou um anjo que batalha ao lado da Luz. Ah, como vocês chamam mesmo? – ele parou para pensar por 1 segundo antes de voltar seus olhos cristalinos para ela – Deus! – disse como se isso resumisse tudo.


- Um anjo? - os olhos de Isabela neste momento se arregalaram, pestanejou algumas vezes e encarou o homem - Eu imaginei que ouviria coisas estranhas hoje, mas minha imaginação é pouco fértil, não chegou a tanto, desculpe se não acredito nisso – seus olhos brilhantes e inteligentes o fitaram incrédulos.

- Sim. Sou um anjo. E você me conhece muito bem, ou melhor, me conheceu. – ele insistiu.

- Você está querendo dizer que... - o homem a interrompeu, erguendo-se da cadeira, aproximando-se dela.
Isabela o fitou temerosa, não sabia como deveria reagir a aproximação dele. Paralisada o viu erguer a mão de dedos longos até seu rosto. Tocou-lhe a bochecha com a palma da mão, e firmou seus olhos nos dela.

- Falei que te levaria para uma viagem – sua voz tranqüila soou muito próxima – Lembre-se – ordenou, então um calor súbito desprendeu-se da mão dele, fazendo com que ela se sentisse aquecida, não só na face, mas por todo o corpo.

Isabela fechou os olhos como que por instinto e de súbito teve sua mente invadida por milhares de imagens desconexas. As suas visões a levaram para um lugar que poderia ser chamado de paraíso, tudo era mais belo do que qualquer lugar que já possa ter visto ou sequer imaginado. Todos viviam felizes naquele lugar e em harmonia. De repente suas visões a levaram para um lugar sombrio e devastado, onde os seus moradores sofriam constantemente e nunca podiam ficar em paz nem consigo mesmo.

- Estes dois lugares que você viu, Isabela, acho que não preciso falar sobre eles. - o homem tirou a mão de sua face e Isabela abriu os olhos, suspirando nervosa.

- Porque eu acreditaria em você? Por mais que estas visões me parecessem reais, eu já fui vítima de pessoas que dominam a mente e criam ilusões. Era um poder que eu não levava crença, mas me provaram o contrário. – ela relutava a aceitar aquilo como verdade. – Além do mais, em nenhum momento sequer eu me vi nestas visões, e pelo que você disse... – e o homem voltou a interrompê-la, recolocando a mão em sua face.

- Acreditando ou não, um dia você lembrará o tempo em que esteve nestes lugares. Só espero que não seja tarde demais, pois precisamos de você nesta guerra.
Então Isabela se viu no tal lugar belo que vira na visão anterior, com ela, mais algumas pessoas, todos transmitiam a paz através de suas feições. Por mais uma vez se viu, ao invés de um ambiente repleto de ternura e paz, viu o sofrimento e a amargura em um lugar ambientado com diversas caveiras, a morte estava ali.

- Se você está falando a verdade então porque não me lembro de nada disso, agora me vi nestas visões, mas ainda encaro isso como uma ilusão.

- Te dar mais detalhes só lhe trará confusão agora. O que precisa lembrar não está em sua memória, mas em seu coração. Quando se lembrar não restarão dúvidas, apenas certezas. – seus olhos baixaram para seu peito, como se ele pudesse ver o que se passava em seu intimo.

- Poderia então me dizer o que aquele cadáver tem haver com tudo isso? Aquelas pessoas que o querem tanto, também são anjos? – ela precisa saber que não estava louca, muito menos que havia imaginado tudo aquilo.

- Quando se lembrar de tudo, você entenderá. Só quero que se atente a uma coisa agora, só você nos viu. As filmagens do laboratório não foram editadas, foi só a maneira que o policial encontrou de explicar a vocês o que não conseguiram ver, para eles não havia ninguém naqueles vídeos, além de você e dos agentes – ele explicou calmamente.

- Quer dizer que vocês são invisíveis para os outros? - perguntou Isabela tentando, a todo custo, acreditar no homem.

- Só quando queremos. E até ontem você também não podia nos ver, mas algo mudou no seu espírito. Por isso não conseguimos nos esconder dos seus olhos.

- Huum... Ainda acordada Isabela? - murmurou o seu marido.

Isabela virou-se, preocupada, para olhá-lo. Vendo que ele ainda dormia suspirou aliviada, voltou para o tal anjo, mas este já não estava mais ali. Sumiu como da última vez.

A doutora deitou-se e, por um instante, refletiu se tudo aquilo seria verdade. Estava certa quando presumiu que suas dúvidas aumentariam se o tal homem aparecesse. Perguntou a si mesma, em voz alta:

- Seria ele um anjo realmente? – inquiriu ao vazio.

- O que foi que disse querida? - perguntou o marido sonolento, sem ao menos abrir os olhos.

- Nada meu amor, volte a dormir. Eu farei o mesmo – disse, rogando para que pudesse realmente dormir por algum tempo. Quem sabe assim, pudesse esquecer toda a loucura que tinha enfrentado naquele dia e, ao acordar pela manhã, percebesse que tudo isso era apenas um sonho.


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21 de novembro de 2011

Gaian e o Exército de Anjos - Parte 3: Desesperada por respostas


Isabela aguardava ansiosa a vinda de seu marido, para que finalmente pudesse ir para casa depois de tudo o que aconteceu. Para evitar o pânico, enquanto esperava tentava encontrar respostas plausíveis, para tantas perguntas que se formavam em sua mente pragmática. Sendo a principal delas o porquê de ainda estar viva! Ela com certeza respirava aliviada por isso, mas não fazia a mínima ideia do motivo que fez os invasores desistirem de encontrá-la.

Depois de mais um suspiro, cogitou que provavelmente teriam partido por já terem encontrado o quê vieram buscar... Porém não se convenceu muito disso, pois algo lhe dizia que o objetivo deles era o corpo do homem que havia chegado ao início daquela noite, mas que já havia sido tirado dali pela mulher misteriosa que os antecedera.

Muitas perguntas e nenhuma resposta. Ela estava completamente confusa, afinal por que aquele corpo era tão importante? Quem era aquele homem? E quem eram os tais invasores? Notou que eles tinham uma força descomunal, seria possível que não fossem humanos? Afastou tal pensamento tão logo ele surgiu. Não queria pensar nisso.

Naquele momento conturbado formulou um pedido, não sabia para quem o fazia nem se obteria resposta, mas pediu em voz alta para que “alguém” lhe explicasse tudo o que estava acontecendo, em detalhes de preferência, para poder se sentir mais tranqüila e menos doida, e enfim entender o que se passava.

Ouviu um barulho na entrada do laboratório, levantou-se tão rápido que quase voltou ao chão, mas foi amparada, por uma mão gentil que lhe evitou a queda.

- Quem é você? - pergunta assombrada ao estranho que surgiu a sua frente do nada. De novo!

- Por enquanto é melhor que não saiba, mas posso dizer que fui enviado em resposta ao seu pedido. - respondeu ele educadamente.

- Que ped... - Isabela parou abruptamente e o fitou de forma incrédula - Você veio para me trazer respostas? É isso o que está dizendo? – perguntou cética, muito embora seu coração estivesse a ponto de saltar do peito, tamanha sua aflição.

- Sim. Isso mesmo, mas não agora. Vou até a sua casa esta noite e farás uma viagem comigo, então lhe contarei tudo o que quer saber. – explicou reticente.

- Em minha casa? Viagem? - questionou aturdida, e então lhe lançou um olhar desconfiado - Por acaso anda me espionando? Sabe onde trabalho, onde moro... Por acaso você é algum dos homens da Segurança Nacional? Estou certa que nunca o vi antes – essa confirmação seguida de todas as suas novas perguntas não receberam mais do que um olhar sucinto do estranho.

- Querida! Você está bem? - Isabela ouviu, surpreendida, a voz de seu marido. Olhou para a entrada e viu Roni correndo pelo laboratório vindo em sua direção. Ele a abraçou forte, parecendo aliviado por encontrá-la aparentemente saudável.

Isabela correspondeu ao abraço, mas manteve-se calada, olhando por sobre o ombro do esposo não viu seu visitante misterioso com quem conversava minutos antes. Desprendendo-se do marido olhou ao redor só para ter confirmada sua suspeita de que mais uma vez, as perguntas aumentavam e as respostas não chegavam.

- Você deve estar apavorada, entendo se não conseguir falar agora. Vamos para casa, você descansará e quando se sentir pronta me conta o que aconteceu. - Ela olhou para seu marido, desconcertada e ainda sob o impacto dos últimos fatos que vivenciou apenas consentiu, com um gesto de cabeça, que ele a levasse dali.

Estava tão entretida em seus pensamentos que não havia notado a chegada dos policiais, que invadiram seu local de trabalho examinando minuciosamente cada recanto, procurando possíveis pistas. Do lado de fora ela pode ouvir a sirene que anunciava a chegada da ambulância, para resgatar os agentes da Segurança Nacional, mas infelizmente para eles já era tarde demais, não conseguiram sobreviver. Mais uma vez foi assaltada pela sensação de que havia sido poupada por alguma espécie de “milagre”, muito embora não acreditasse nisso. Era uma médica, e como tal sua mente racional se negava a dar crédito a esse tipo de coisa.

A imprensa já estava por toda parte, quando ela e o marido conseguiram em fim chegar á saída, quase todos correram em sua direção bombardeando-a com toda sorte de perguntas sobre o que acontecera naquela noite. Isabela não responde a nenhuma delas, até por que não as tinha. Então simplesmente fingiu que não os ouvia. Seu marido desesperado com o assédio, e visivelmente preocupado com ela, exigiu para que eles se afastassem e os deixassem em paz, mas eles ignoraram seu apelo aglomerando-se ainda mais á volta deles. Roni então abriu caminho entre eles aos empurrões até o carro que estava estacionado bem em frente ao laboratório.

Porém antes de entrar no carro Isabela ergue o rosto, olha para prédio onde exerce sua profissão há tempos e em seguida volta seus olhos para a multidão de repórteres a sua frente, que seguem crivando-lhe de perguntas, em sua maioria desconexas. Ela levanta a mão para apaziguar os ânimos exaltados, o que surte efeito, então os encara decidida.

- Se eu tivesse as respostas que vocês procuram, eu as daria, mas nem mesmo eu sei o que aconteceu aqui. Então peço que me perdoem por isso, e desejo a todos vocês uma boa noite – sem mais nada a dizer-lhes, entra no carro e respira aliviada por sentir-se segura afinal.

Estava fechando o cinto de segurança enquanto seu marido tomava seu lugar ao volante quando foram abordados por um homem alto, que se debruçou na janela do motorista identificou-se como Maicon Lazareno, detetive de polícia designado para o caso.

- Boa noite – sua voz forte invadiu o veículo – Gostaria de pedir que vocês seguissem até a delegacia. Precisamos ouvir a versão dos fatos do ponto de vista da Doutora Isabela, já que ela parece ser a única sobrevivente do ataque acontecido aqui – seu pedido soou mais como uma ordem a eles, e para que não restassem dúvidas sobre isso ele ainda acrescentou – eu mesmo os escoltarei até lá. Por favor, me sigam – e sem esperar por uma resposta, dirigiu-se a passos rápidos até sua viatura que estava estrategicamente parada em frente ao carro deles. 

Isabela apenas trocou um olhar aflito com o marido, antes de vê-lo ligar o carro e fazer exatamente o que o tal detetive havia pedido.
 
Quando chegaram a Central de Polícia, Isabela saiu do veículo e deparou-se com alguns carros da imprensa também estacionando logo atrás deles, olhou-os irritada, eles pareciam um bando de abutres sobre a carniça, a esse pensamento lembrou-se mais uma vez do corpo roubado do seu laboratório e estremeceu. Vindo em seu socorro, o detetive Maicon Lazareno juntamente com alguns policiais imediatamente confrontou os primeiros repórteres que, afoitos, tentavam achegar-se á Doutora Meyer, frustrando-lhes o intento, Maicon deixou que seus companheiros formassem uma barricada humana na escadaria que dava acesso ao prédio, enquanto ele próprio guiava o casal para dentro da delegacia.

Ao entrarem, o detetive levou-os direto a sua sala, gentilmente convidou-os a acomodarem-se, e antes de começar a conversa, ofereceu ao casal água e café. Isabela aceitou de prontidão a oferta de água, qualquer coisa para aliviar a secura em sua garganta seria bem vinda agora, já Roni simplesmente declinou, forçando-se a manter a educação, quando sua vontade era mandar o detetive as favas e levar sua mulher para casa, a fim de cuidá-la. Ainda que ela não demonstrasse claramente, podia notar-lhe o olhar preocupado e assustado, durante o trajeto até ali a surpreendeu várias vezes olhando pelo retrovisor, como se estivesse com medo de que alguém os seguisse, ele temia que ela acabasse entrando em choque antes que pudesse dar-lhe um calmante e pô-la na cama.

Ainda cismado com esse pensamento viu o detetive Lazareno voltar à sala com um copo plástico que ofereceu a sua esposa, que antes mesmo de terminar de agradecer já emborcava o seu conteúdo goela abaixo. Mais uma prova de que ela não estava bem. Normalmente Isabela era uma mulher calma e contida, aquele gesto de sorver a água de forma tão impaciente não combinava com ela.

Acompanhando o olhar que o marido mantinha cravado na Doutora Isabela, Lazareno aproveitou para introduzir a conversa, alegando de cara que não acreditava que ela pudesse ter algum envolvimento com os últimos acontecimentos, ante o olhar especulativo do casal afirmou que devido a algumas provas que já haviam sido encontradas ficou provado que o autor ou autores do crime deveriam ser muito fortes para causar tamanho estrago, todavia, precisava saber o que ela havia presenciado, pois era a única testemunha ocular dos fatos, mas não lhes deixou saber de suas dúvidas do por que ela havia sido poupada. Ele tinha dado uma boa olhada nos corpos dos dois funcionários da S.N., e podia jurar que o trabalho de acabar com eles tinham sido coisa de profissional.

- Bom, detetive, - adianta-se Isabela empertigando-se em sua cadeira - desconfio que não possa ser de grande ajuda em suas investigações, pois me refugiei no fundo de uma saleta do laboratório, assim vi rapidamente o que acontecia no corredor, fiquei trancada lá, tentando me esconder, tudo de que me lembro é do barulho infernal de coisas sendo quebradas. – ela o olhou com pesar, como se estivesse se sentindo culpada por não ter enfrentado os bandidos.

- Entendo, - o detetive tentou tranqüilizá-la sorrindo-lhe levemente - mas deixe-me lhe perguntar uma coisa, nós demos uma olhada nas câmeras de segurança... as gravações do dia são estranhamente interrompidas no momento em que a senhora recebe um corpo, a partir daí as câmeras parecem simplesmente terem parado de filmar, como se as filmagens tivessem sido editadas antes mesmo de serem gravadas. Em nenhum momento, doutora, as filmagens mostram a senhora buscando refugio. Não acha isso um tanto estranho? – ele a encarava inquiridor.

- Está acusando a minha mulher de alguma coisa? - pergunta insatisfeito o esposo de Isabela, que até então permanecia calado. Era um insulto tratarem uma pessoa traumatizada daquela maneira.

- Absolutamente não, senhor Meyer. Como eu disse, não creio que sua esposa tenha algum envolvimento, estou apenas expondo a vocês o que as imagens nos “disseram”. Achei que talvez ela pudesse lembrar de algo á respeito – soou com tom de voz apaziguador, não enganando Roni nem por um instante. Ele sabia o que o policial estava tentando fazer, mas antes que pudesse dizer algo mais, viu Isabela remexer-se inquieta ao seu lado, as duas mãos segurando sua cabeça, enquanto girava ela de um lado para o outro num movimento de negação.

- Eu não entendo, realmente. - demonstrando certa aflição, Isabela começa a expor suas primeiras percepções do que testemunhou - Como isso pode ser? Eu vi de relance os rostos dos invasores, eles não me pareciam estar preocupados em se esconderem, não usavam mascaras nem capuzes, e em nenhum momento os vi chegarem perto dos equipamentos de filmagem. – uma ruga de incompreensão franziu sua tez bonita antes de acrescentar - Da forma como surpreenderam os agentes federais e arrombaram a porta de entrada acredito que teriam destroçado as câmeras e não retirado partes das filmagens apenas. – afirmou convicta.

- Desculpe dizer, mas a Doutora me parece muito tranqüila depois de tudo pelo que passou essa noite... – disse reticente o detetive, tentando entender o que realmente se passava na cabeça de Isabela naquele momento.

Admirado, ele viu um brilho de lucidez e confiança perpassar os olhos de Isabela, ela aprumou os ombros e o encarou determinada.

- Sim. - confirmou a médica – Sou uma pessoa equilibrada, de certa forma me considero um pouco fria. Aprendi a ser assim por causa do meu trabalho. Minha profissão requer que tenhamos certa postura de distanciamento, por isso não costumo expor meus sentimentos facilmente. – ela o mantinha cativo em seu olhar onde ele podia ler a inteligência e sinceridade que o permeavam - Mas confesso que ainda me sinto muito apavorada com tudo o que passei essa noite detetive. Temo que não possa me esquecer disso tão cedo quanto gostaria. - completou Isabela.

Muito embora tivesse feito um belo discurso não sentiu que convencera a Lazareno. Aliás, nem ela mesma estava convencida de alguma coisa do que dissera, já que desconfiava que sua aparência apática a desmentia. A verdade é que não conseguia parar de pensar naqueles estranhos... No tipo de força sobre-humana que pareciam possuir, sem falar na habilidade extraordinária que tinham para surgir e sumir diante dos olhos dela... Simplesmente inexplicável. Tudo isso conflitava com todas as crenças dela. Uma vida inteira estudando para ser médica a havia tornado cética, ela não acreditava em nada que ela não pudesse explicar e comprovar de forma científica.

-Acho que já podemos ir, não é detetive? – Roni se pôs de pé, estendendo a mão para que a esposa se apoiasse nele e fizesse o mesmo.

- Por enquanto seria isso. Precisam que os acompanhe até em casa? - ofereceu-se o detetive Maicon, mas demonstrando certa relutância para tal.

- Não será necessário. - Roni descartou apressadamente - Ficaremos bem – disse já se dirigindo para a porta do escritório.

- Doutora Meyer, só mais uma coisa. – antes que eles tivessem transposto o batente da porta pararam e ambos olharam sobre seus ombros para a figura do detetive sentado atrás da escrivaninha – Onde ele está? – a pergunta simples soou desconexa para a mente lógica da médica.

- De quem o senhor está falando? – questionou-o confusa. Seu coração deu um sobressaltou, pois ela achou que talvez as câmeras tivessem gravado seu encontro com o homem misterioso que havia lhe prometido respostas.Ele a olhou profundamente por um longo tempo antes de voltar a falar.

- Do cadáver que a Senhora recebeu antes de o laboratório ter sido invadido – ele a viu retesar o corpo e passar a mão nervosa pelo cabelo – os agentes da perícia investigativa não encontraram nenhum outro corpo no local, além dos agentes federais mortos, ainda que as filmagens atestem que a senhora recebeu um tempos antes – ele a fitou atento.

Ela elevou seus olhos acuados para encontrar os do marido ao seu lado, que também a fitava com a mesma curiosidade que animava o detetive. Por algum motivo não se lembrou antes de contar sobre a mulher misteriosa que havia levado o corpo. E achou que agora não seria a hora certa para dizer ao detetive encarregado que, além dos assassinos outra pessoa havia invadido aquele mesmo local naquela mesma noite e levado consigo o corpo de um indigente cuja responsabilidade de cuidar estava á cargo da Segurança Nacional. Até por que quem acreditaria nela se dissesse que não sabia como ela havia surgido e muito menos como tinha sumido ante seus olhos? Noite difícil aquela, o melhor era deixar as coisas como estavam, isso sim.

- Eu não sei o que foi feito dele – seu tom de voz vacilou ligeiramente ao dar-lhe a resposta, o que o fez imaginar que, ou ela estava mentindo ou estava omitindo algo. Fosse como fosse, ele iria descobrir.

- Gostaria de pedir-lhe que a Senhora não deixe a cidade, sem nos avisar – disse levantando-se e indo até eles – É possível que se torne necessário uma nova conversa. Tudo bem? – seu riso simpático era a deixa para que o casal se fosse.



(Redação: Kátia Alexandre)


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10 de novembro de 2011

Gaian e o Exército de Anjos - Parte 2: Os Anjos da Morte

Passara quase uma hora, desde que o corpo do homem fora roubado do laboratório. Isabela permanecia sentada, incrédula, tentando pensar em algo para dizer ao agente da Segurança Nacional quando este chegasse, mas nada lhe caia à mente. O que diria? “Boa Noite, fez um lindo dia hoje não? A propósito o tal corpo que estava sobre minha responsabilidade foi roubado! E não, não foi um grupo armado que o levou, e sim uma mulher que saiu placidamente por essa mesma porta pela qual você entrou!” Sim isso explicaria bem as coisas, pensou irritada consigo mesma.

Seu marido havia ligado pouco antes, estava preocupado com a demora da esposa, ela o acalmou dizendo que só precisava esperar algumas autoridades para entrega de alguns relatórios. Absteve-se de dar maiores detalhes, até por que, ela mesma não sabia o que havia se passado ali. Ainda se perguntava se o que tinha visto era real.

Aquela mulher aparentava ser normal, mas ao lembrar-se dos olhos dela, Isabela percebeu que não era bem assim. A invasora tinha força sobre-humana com certeza, mas as suas feições transmitiam a grande tristeza que carregava no coração. O homem que morreu devia ser bem próximo dela, talvez amante ou então o seu irmão. O que mais lhe intrigava não era a força ou a relação dela com o defunto, mas a forma como entrou no laboratório sem ser percebida. A única explicação viável seria ela ter entrado voando, mas era algo que não passava pela cabeça de Isabela, mesmo assim arriscou uma olhada ao teto, só para constatar que os dutos do ar-condicionado estavam todos intactos. Sem chance.

O interfone tocou despertando Isabela de seu torpor, supondo que fossem os Agentes que aguardava, endireitou-se na cadeira, aprumou os ombros e encarou através da janela da porta a sua frente. 

Levantou-se para recebê-los e então eles foram surpreendidos, derrubados e não mais se ergueram. Na curiosidade de saber o que tinha acontecido, Isabela não se preocupou com o perigo e correu até a porta. Pela mesma janela viu dois homens, ainda maiores do que aquele que examinara horas atrás, aparentavam ser tão fortes quanto, mas não transmitiam tranqüilidade e serenidade, muito pelo contrário, davam medo só de olhar.

Apavorada, e finalmente temendo por sua vida, a doutora abaixou-se e correu em direção a uma saleta contigua a sua bem a tempo de escapar dos olhos frios dos novos invasores.

Os estranhos se dirigiram para dentro do recinto. Arrancaram a porta do saguão de entrada, trás da qual ela estivera segundos antes. Sem se preocuparem em serem contidos os dois brutamontes reviraram todo o lugar como se procurassem algo. Enraiveciam-se ainda mais á medida que a busca mostrava-se infrutífera. Isabela, respiração suspensa, observava tudo através da fechadura da sala inativa, ao fundo do laboratório, que agora lhe servia de refúgio.

Em dado momento os homens pararam com a destruição e entreolharam-se. Movimentaram as cabeças de um lado para o outro, as narinas dilatadas parecendo farejadores em ação. Sentiam a presença de alguém e voltaram a vasculhar o local, aproximando-se cada vez mais da sala onde estava a doutora. Percebendo o perigo que passava, Isabela começou a procurar um novo lugar para se esconder, era evidente que em pouco tempo seria encontrada, se ali permanecesse. Talvez, por causa do pânico que lhe embotava a mente, não encontrava um novo refúgio, estava cada vez mais aterrorizada. Esgueirando-se até um canto da sala escura, comprimiu-se o  mais que pode contra a parede, tendo apenas um frágil e velho armário como escudo, e foi quando viu a porta da sala ser atirada contra a parede a sua frente. Apertou a mão contra a boca para evitar que seu grito escapasse. Não podia ser vista da nova abertura, mas era questão de segundos para tal.

Viu as sombras imensas dos dois se projetarem onde estava a  porta destroçada. O medo em seu rosto era eminente. Isabela fechou os olhos sem saber o que aconteceria dali em diante, sua mente estava vazia, nada sentia, apenas apertou mais os olhos e aguardou pelo que viria á seguir. Passaram-se alguns segundos, nada aconteceu. Não ouviu passos, não sentiu aproximação de ninguém. Ainda temerosa voltou a abrir os olhos e nada viu, virou-se para a porta e lá também não viu ninguém. 

 Receosa, engatinhou até a porta que separava a saleta de sua sala oficial e espiou ao redor. Nada. Pôs-se de pé cautelosamente e esperou, como não ouviu nenhum ruído arriscou andar pelo laboratório, vendo tudo destroçado, sabia que o lugar precisaria ser fechado por alguns dias para poder voltar a funcionar normalmente, o pensamento absurdo de que aquela devastação em seu laboratório lhe renderia alguns dias de férias, não a animou em absoluto. 

 Ouviu o toque característico de seu celular anunciando uma chamada. Desesperada vasculhou entre os destroços e o encontrou sob os escombros de sua mesa arruinada. Recuperou o aparelho que milagrosamente havia sobrevivido á fúria dos visitantes misteriosos, só para descobrir que era outra vez o seu marido. 

- Você ainda irá se demorar por aí? – a voz suave de Roni serviu-lhe de calmante. Era tão bom poder voltar a ouvi-lo, ainda mais depois de ter pensado que nunca mais o faria.

- Eu já terminei aqui. Você poderia vir me buscar? – ela mesma estranhou o quanto sua voz soou tremula ao formular o pedido.

- Está tudo bem Isabela? – perguntou preocupado.

Roni era extremamente atencioso no que dizia respeito a sua mulher. Sabia dizer, apenas com um olhar ou ao ouvir sua voz se algo estava ou não errado com ela.

- Quando você chegar aqui explico melhor – foi a resposta curta e tensa que ela lhe deu – Roni? Por favor, não demore muito está bem? – e sem esperar pela resposta dele ela cortou a ligação.

Voltando a olhar em volta, vendo o estado lastimável em que se encontrava seu local de trabalho, sentiu-se aliviada ao saber-se incólume. E foi então que outro pensamento, tão assombroso quanto a destruição diante de seus olhos, ocorreu-lhe, os homens, aqueles que haviam invadido seu laboratório tal qual a mulher o fizera mais cedo, haviam sumido!


(Redação: Kátia Alexandre)


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7 de novembro de 2011

Gaian e o Exército de Anjos - parte 1: A Autópsia

O dia está chegando ao fim para Doutora Isabela Meyer, conhecida como a melhor da cidade em sua atividade. Ela é tanatologista*, profissional que examina cadáveres em busca das causas de suas mortes. Para os leigos, ela era apenas a “médica legista”.

Hoje o dia tinha sido atípico, poucos casos para serem resolvidos. Normalmente a correria era grande, muito tumulto se passa pelo I.M.L* de Osasco onde ela trabalha - em parte por sua fama de eficiência, em outra pelo grande número de acidentes trágicos que acontecem diariamente. Raramente aparecem casos simples que logo são encaminhados para outros médicos que também atuam em sua área.

Já se preparava para finalizar o relatório diário, quando o sinal soou. Era o aviso de mais um corpo chegando para uma autópsia, provavelmente teria que alterar seus planos de ir mais cedo para junto de sua família. De sua mesa, pode avistar os dois agentes funerários que traziam o corpo, embalado no característico saco preto, pelo corredor sobre  uma maca móvel. Largaram a maca no meio da sala e antes de saírem, avisaram-na que logo mais viria um representante da Segurança Nacional, para falar com ela, a respeito do corpo recém chegado.

Aquilo era novo. Ela se perguntou o que estaria por vir... Por que haveria necessidade da Segurança Nacional estar presente? Pelo visto ela teria que esperar para saber. Para não perder tempo, tratou de descobrir o corpo, e eis a primeira surpresa. Ele estava absolutamente intacto, nem sequer um arranhão visível, revirou o defunto a procura de alguma marca ou algo do tipo, mas não encontrou nada. O corpo pertencia a um homem de aparência física muito marcante, músculos bem definidos, mas sem deixar de ser elegante. Era muito estranho, Isabela estava acostumada a receber apenas casos complicados em que fosse necessário esclarecer os detalhes para policiais e outras autoridades, mas nunca fora um caso de nível nacional.

Dando início à autópsia ela começou por abrir o abdômen, para verificar seus órgãos vitais, também ali não encontrou nada que pudesse atestar o óbito. Não encontrou ferimentos e nem mesmo sinais de hemorragias ou a falência de algum órgão. As pessoas morrem por inúmeros motivos, para não haver sinais explícitos, sugeria-se morte por alguma doença ou envenenamento. Casos assim até eram normais, mas não para Doutora Meyer, para ela apenas os casos mais complicados eram encaminhados, casos de mutilação, esfaqueamento, alvejados á bala, entre muitos outros.

Para Isabela receber um corpo intacto, sem ferimento externo visível já era estranho demais, descobrir que ele também não tinha nenhum trauma interno era no mínimo estranho, e saber que, além disso, tudo estava á caminho a Segurança Nacional? Ela encarou, com a testa franzida em sinal de frustração, o homem morto com o esterno aberto na mesa. Como se buscasse nele as respostas para suas inúmeras interrogações.

Já se passara um bom tempo, e sem obter sucesso Isabela deixou-se ficar ali cismando, minutos depois julgou ter ouvido alguns passos no saguão de entrada e foi ao encontro, esperando que fosse a visita que aguardava. Chegando a entrada da sala espiou pela porta e não viu ninguém, confusa se virou para voltar ao trabalho e foi então que á viu.

A mulher esbelta, não muito alta, mas mais do que ela, se aproximou da maca e, como se fosse à coisa mais normal do mundo, ergueu o corpo estendido sobre ela, agarrando-o junto ao peito.  Para tanto ela precisaria de mais força do que aparentava ter. Como foi que ela entrou ali sem que Isabela percebesse? Mesmo impactada com aquela visão nada convencional ela encontrou sua voz.

- Largue-o imediatamente - gritou alto com a invasora, esperando impressioná-la com seu tom de comando.
A estranha virou-se para ela, aferrando-se ainda mais ao corpo do desconhecido, encarando-a.

- Eu não posso – sua voz melancólica acompanhada de um olhar profundamente dolorido desnorteou a médica.

Isabela não entendeu nada, menos ainda sua própria falta de reação, sentia como se a mulher chorasse por dentro, a tristeza estampada naquele semblante bonito era dilacerante. Provavelmente o motivo era a morte daquele homem que agora ela carregava para fora do laboratório sem o menor esforço.

Somente alguns segundos depois da saída da seqüestradora, foi que Isabela deu-se conta que não tentará impedi-la, então correu para o telefone, só para descobrir que este estava mudo. Correu para a entrada para ver se alcançava a mulher, não sabia exatamente o que faria caso a encontrasse, mas não a deixaria escapar facilmente, porém, surpresa viu que o saguão estava completamente vazio.


(Redação: Kátia Alexandre)


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Tanatologista*  – É o médico especialista em Tanatologia, que é a parte da medicina legal que se ocupa da morte e dos problemas médico-legais com ela relacionados. É uma palavra de origem grega: Tanathos - o deus da morte e Logia - ciência.
I.M.L* – Sigla para Instituto Médico Legal.


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24 de outubro de 2011

Lembranças


Debruçado sobre a mesa, com os olhos voltados para a janela da cozinha. Estava ele, solitário, lembrando dos tempos em que enfrentou o mais poderoso dos arcanjos. Estar só não era e nunca foi um problema.
Por mais que quisesse esquecer aquela batalha sangrenta, nada podia fazer. Aquelas lembranças lhe inundavam a mente, assim como fizeram os mares na época do dilúvio, que aliás, agora lhe era claro ter passado também por esta parte da história.
Inevitavelmente, lembrar da batalha, o fazia lembrar da única mulher que amou. Fora criado para defender e não para sentir, mas algo deve ter acontecido no processo de sua criação, pois os sentimentos em seu coração eram tão fortes quanto os de um simples ser humano.
Tão absorto que estava, não percebeu o dia passar. A escuridão da noite invadira os seus aposentos, portas e janelas estavam todas abertas ainda, mas nada o tirava daquele transe, ficaria ali ainda por muitas horas.
Lembrou do dia em que conheceu a filha dos homens que conseguiu fazer despertar o primeiro sentimento mortal em sua carne. Era linda, tinha olhos verdes, pareciam refletir o brilho de uma esmeralda. Ela o amou, sim o amou. Pois agora ela se foi, nunca mais a verá. Nunca mais a tocará.
Em prantos agora estava, não podia controlar o sofrimento que partia de dentro de seu coração, sentimento este que antes nunca havia sentido. Estava entregue. Se quisessem matá-lo, a hora seria essa, pois ele nada faria para impedir, na esperança de assim poder rever sua eterna paixão.
Enquanto os ponteiros do relógio davam infinitas voltas em torno de seu eixo. Os pensamentos dele davam voltas em torno do mundo. Lembrou-se então de seu arquirrival, aquele que sempre esteve em seu caminho nas suas inúmeras missões. Fora este o homem responsável pela maior parte de suas cicatrizes.
Se pudesse voltar no tempo ele pediria para não conhecer sua amada. Não seria tão feliz quanto foi, mas ao menos não teria se enfraquecido tanto, ou então, se assim fosse, ela ainda estaria viva.
Gaian, como era chamado entre os amigos humanos, ergueu-se e saiu de sua casa em busca de algo que ainda poderia lhe fazer sentido para continuar na Terra. Do contrário, rumaria de volta para onde venho, o Céu.
Logo na saída para a rua, viu uma mulher e uma menina, presumia que fossem mãe e filha. Ficou debilitado ao ver a felicidade estampada em seus rostos, percebeu que estava sendo egoísta, que a vida não foi feita para tão pouco. O fato de ter perdido a pessoa que amava não deveria fazê-lo desistir de seus propósitos, estar vivo era a explicação para tal.
Neste momento, parou ali mesmo, onde estava. Percebeu o quão humano tinha se transformado. Antes de viajar para a Terra, para o convívio dos homens, Gaian não precisava presumir, ele sabia a verdade. Ver aquela mulher e aquela menina e não saber se realmente eram mãe e filha de sangue lhe mostrou que estava mais carnal do que nunca. O egoísmo em sua mente lhe deu a certeza desta nova realidade.
Continuou sua caminhada sem rumo, agora já não sabia se precisava de algum motivo mais real do que aquele para voltar as origens. Antes que fosse tarde demais e se tornasse ser humano por completo. As limitações da carne sempre foram temidas para os anjos. Deixar todos aqueles poderes psíquicos e sua enorme força física de lado para sofrer?
Por outro lado, depois de ter conhecido Isabela, também conheceu o que era o amor, o sentimento mais gratificante que um humano podia sentir, mas os anjos não. Os anjos não conheciam o amor. Deus é amado pelos seres humanos, mas os anjos apenas o adoram.
Sem perceber, já haviam passado algumas horas desde que saiu de casa. Resolveu então se preparar para voltar junto ao exército angelical, sua missão na Terra acabara. Antes mesmo do seu primeiro passo de volta, ouviu um disparo de revólver, vindo não muito longe dali. Aproximou-se de um beco, entre dois prédios, para ver o que acontecia.
Encontrou um homem, alto e aparentemente muito forte com uma arma apontada para cima e o abordou. O homem se virou para ver quem estava ali, Gaian percebera que ele amedrontava um garoto de no máximo 16 anos e pediu para que ele se retirasse. O homem armado apontou a arma para Gaian, permitindo que o moleque escapasse.
Gaian perguntou ao homem porque precisava de uma arma para amedrontar uma criança se somente sua aparência já bastava. O homem, sentindo-se ofendido, disparou contra Gaian, que em um rápido movimento desviou seu corpo, não completamente, do percurso do projétil. Desviou mais por reflexo, pois anjos são imunes a armas de fogo.
O homem não acreditando ter errado o tiro, apertou o gatilho novamente e a arma falhou. Gaian partiu para cima dele e o pôs contra a parede pressionando-o e ameaçou dizendo que se encontrasse-o mais uma vez acovardando uma criança ou algo do tipo, ele mesmo colocaria um fim nele. O homem saiu correndo, apavorado.
Gaian procurou ao seu redor, mas não viu o garoto. Tomou rumo para casa e lembrou de todas as coisas ruins que viu desde que desembarcou na Terra, lembrou das quantas vezes que os arcanjos queriam acabar com a raça humana, devido ao ódio, ao rancor, e a tantos sentimentos negativos que só os humanos tinham. Naquele momento sentiu uma fisgada no braço e percebeu sangue escorrendo. Havia se ferido e precisava de cuidados médicos.
Para a sorte dele, ali perto havia um hospital, mas antes que chegasse lembrou-se que nunca antes havia visto seu próprio sangue. Quando se desviou daquele tiro, deixando que lhe acertasse de raspão, sabia que poderia deixar aquele disparo lhe acertar o coração, que nada aconteceria, mas estava enganado, agradeceu ao seu reflexo e percebeu que o fim do episódio teria sido diferente.
Quando entrou no hospital, uma enfermeira logo o amparou e lhe deu os primeiros socorros. Pediram então os seus documentos, mas Gaian informou que havia deixado em casa. Por alguns minutos ficou ali, sentado, aguardando para ser liberado. Neste tempo ele voltou a refletir seu passado. Quando foi lhe dada a missão de ir a Terra e proteger os humanos, junto de outros anjos, recebera vários documentos, estes lhe serviriam para circular em qualquer parte sem ter problemas com polícias ou outros tipos de autoridades.
Gaian levantou-se e disse as enfermeiras que já estava melhor e iria para casa, elas pediram que ficasse mais um pouco e ele insistiu que não era necessário. Naquele momento dois policiais entraram pela porta da frente e outro pela porta dos fundos, procurando por ele. Abordaram Gaian e perguntaram o que tinha acontecido com o seu braço.
Logo soube que eram os funcionários do hospital que haviam os chamado, afinal, fora baleado e estava sem os documentos. Gaian lhes contou a verdade, que abordou um homem que ameaçava uma criança, então os policiais lhe ofereceram carona para casa, para que poderia mostrar seus documentos. Obviamente aceitou e assim o fez.
Chegando em casa viu a porta arrombada e sabia que algo de errado estava acontecendo. Os policiais pediram para Gaian se afastar que eles iriam averiguar. Gaian permitiu, mas ficou receoso. Dois guardas foram pela porta da frente e o outro pela porta dos fundos, Gaian se perguntou se sempre faziam aquilo.
Antes que os dois primeiros chegassem à porta da frente, ouviram disparos nos fundos e, imediatamente, entraram correndo pela casa, Gaian os seguiu e antes que chegasse os guardas foram atirados contra ele, com o impacto os três encontraram o chão fora da casa.
De dentro do recinto aparecia um homem, alto e forte, com aparência demoníaca. Gaian logo o reconheceu e percebendo os policiais desacordados ergueu-se e se impôs ao seu eterno rival, Luchér. Era este o homem que matou a sua amada, se de homem poderia ser chamado. Luchér era sem dúvida o único ser que Gaian queria ver aniquilado, mas por suas próprias mãos.
Partindo para cima dele, Gaian resgatou toda a sua raiva guardada e investiu contra seu inimigo, mas foi em vão, com apenas um movimento Gaian foi detido e ainda arremessado contra a viatura que estava estacionada logo em frente a sua moradia. Foi então que se lembrou do ferimento no braço, sabia que agora era um mero ser humano e não restava-lhe mais nada divino em seu corpo agora carnal e mortal.
Luchér sabia disso e por isso que estava ali. Antes, quando Gaian ainda era um ser angelical, as várias batalhas entre eles nunca tinham um vencedor, pois suas forças se equilibravam tanto que os confrontos só terminavam porque alguém se intrometia. Mas naquela que estava por vir, seria diferente. Luchér com toda sua força demoníaca ainda intacta não teria pena do agora humano e fraco Gaian.
Partindo em contra-ataque para cima de seu agressor, Gaian mais uma vez não teve sucesso, Luchér o abateu facilmente, jogando-o contra a sua própria residência, derrubando o que ainda sobrava de pé.
Agora era Luchér que avançava, parou a poucos centímetros de onde Gaian estava deitado e lembrou-o das suas tantas batalhas que nunca haviam tido um fim, lembrou que nunca o vira assim ferido e sangrando, acrescentou que na verdade nunca vira qualquer um de seus adversários naquele estado, o mais humilhante possível.
Luchér também lembrou a Gaian de seu maior erro, se envolver com humanos. Que era por causa disso que agora seria, enfim, derrotado. Gaian respondeu em tom irônico, de que estava preparado para morrer, que não se arrependera de nada que havia feito, disse até que faria tudo novamente. Não se importava que o seu maior inimigo fosse o seu algoz, pois o que queria era ver sua amada novamente.
Luchér ergueu seu punho em direção a Gaian e disse que então seria misericordioso e realizaria o seu desejo. Gaian fechou os olhos e aguardou o seu fim. Passaram alguns segundos e nada aconteceu, quando abriu os olhos novamente viu seus amigos Sitael e Rochel derrubarem Luchér num golpe em conjunto e disseram para Gaian procurar Isabela, pois ela estava viva.
Gaian não acreditou e quis detalhes, mas os dois insistiram para que se retirasse, pois não havia tempo para explicações. Disseram que Luchér não conseguiu matá-la, pois Gabriel Arcanjo o impediu. Erguendo-se e recuperando todas as suas forças, Gaian viu seus ferimentos cicatrizarem-se instantaneamente, foi quando Luchér investiu um golpe contra os três, mas antes disso Gaian trouxe toda a sua energia para o seu punho e além de conter o ataque do inimigo, também o nocauteou acabando de vez com ele.
Naquele momento apareceu Gabriel Arcanjo, com Isabela aos seus braços, desacordada. Gabriel disse para Gaian que ela estava assim havia muito tempo e que precisavam fazer algo. Gaian a tomou e pediu para que acordasse, mas nada aconteceu.
Agora Gaian estava sentido dor novamente, viu suas cicatrizes voltando, então finalmente percebera. Anjos se tornam humanos porque passam a sofrer, passam a ser egoístas e passam a sentir dor. Isabela abriu os olhos e olhando para Gaian ela sorriu. Ele novamente recuperou sua energia e seus ferimentos cicatrizaram. Foi então que Gaian percebeu que os anjos também podem amar.


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14 de outubro de 2011

A Mãe Natureza


Hoje é dia de reunião do Congresso. Todos precisam estar presentes, mas alguém está atrasado. O Espírito do Fogo está presente, o Espírito da Água também. O Espírito do Ar nunca faltaria e também não podemos esquecer do Espírito da Terra, todos presentes. Quem ainda não chegou é a Mãe Natureza, está até virando costume chegar atrasada para a reunião, esta que decide as próximas ações que deverão ser tomadas afim de mudar o cenário atual.
Não é por preguiça ou falta de vontade, muito menos por estar presa no trânsito. A presença mais importante desta reunião, a Mãe Natureza, provavelmente deve estar com problemas para caminhar, ou para respirar, ou ainda para simplesmente se levantar. Ultimamente tem enfrentado vários problemas de saúde. O seu médico relatou no último exame dezenas de doenças, dentre elas várias intoxicações.
Enquanto aguardam a chegada da presidente do Congresso, os Espíritos da Natureza coxixam entre si, lamentando pela atual situação em que se encontra a mãe deles. O Espírito do Fogo chama a atenção de todos e diz que está mais que na hora de algo de verdade ser feito, ele sugere colocar todos os vulcões do planeta em erupção simultânea, para ver se a humanidade cai na real e muda seus hábitos.
O Espírito do Ar, mostrando uma expressão revoltada, concorda com seu irmão, mas acha que seria melhor ventanias para todos os lados, pondo abaixo todas as construções que prejudicam a Mãe Natureza, assim as coisas melhorariam com certeza, mas, o Espírito da Água, interrompe. Ele menciona as ideias propostas por seus irmãos, mas lembra que tudo isso não teria os melhores resultados.
Se os vulcões entrassem em erupção, muitas pessoas inocentes morreriam, pois somente as famílias mais pobres moram do lado deles, isso apenas por não ter outro lugar para ir. Se ventanias tomassem conta do planeta, não apenas as construções maléficas iriam abaixo, mas também muitas outras importantes para todos.
O Espírito da Água acrescenta que se fizessem chover por dias, principalmente nos países mais ricos e poluentes, a inundação que tomaria conta, com certeza faria todos pensarem e agirem imediatamente.
O Espírito do Fogo alerta que assim também muitos inocentes seriam mortos, pois, a cultura de atitudes antisustentáveis, não são exclusividade dos mais poderosos. Assim começa uma discussão entre eles, quando, o Espírito da Terra, até então em silêncio, os interrompe e diz que nada podem fazer sem a autorização da Mãe Natureza.
Os três, juntos, lembram das quantas vezes que sugeriram algumas destas ações, entre outras, mas que nunca foram acatadas. Acusam a Mãe Natureza de não deixar punir aquelas que fazem mal a ela mesma. Não se conformam de forma alguma em ver a sua mãe passar por tudo aquilo.
O Espírito da Terra avisa que ela sempre está certa. Ele compartilha a indignação de seus irmãos, mas lembra a eles que todas estas ações não seriam eficazes para resolver todos os problemas, tudo isso só machucaria mais e mais a Mâe.
Em momentos de fúria os Espíritos da Natureza, em vez ou outra, se rebelam, é quando acontecem algumas das catástrofes que hoje presenciamos. Os tsunamis, por exemplo, são a fúria do Espírito do Ar quando se desentende com seu irmão, o Espírito da Água.
A Mãe Natureza reprova estas ações radicais, por parte de seus filhos, pois acredita na humanidade, acredita que em algum dia do futuro as pessoas se conscientizem da real necessidade de preservar a natureza para o seu próprio bem. Não é nem o caso de egoísmo, pois os homens estão prejudicando a si mesmo e não ao próximo. Mas a Mãe Natureza sabe que a Esperança nunca morre, afinal ela a conhece bem, é sua irmã.


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O BOM EXEMPLO

Um garoto observa sua mãe com três pequenas sacolas que leva até o cesto de. Curioso como é, pergunta:
- Mãe, porque você não coloca tudo numa sacola maior?
- Meu filho, olha só: aqui eu tenho um saquinho com papel, outro com cascas de frutas e o terceiro tem embalagens plásticas.
- Mas porque, isso é lixo mesmo, não é mais fácil tudo num “sacolão” bem grande?
- Não para as pessoas que trabalham pra separar depois. O caminhão do lixo recolhe tudo e leva para a usina de reciclagem. Lá, têm pessoas que separam tudo para ser reciclado.
- Mas o que é reciclar?
- Por exemplo, todos os papéis que são jogados no lixo, são colocados juntos e com eles são feitos papel novo para que a gente possa usar.
- Mas porquê a gente precisa reciclar?
- Pra que a gente tenha papel precisamos derrubar árvores. Cada caderno que você usa na escola precisa de várias para estar ali, quando se recicla o papel não precisamos cortar árvores. Imagina se um dia não tiver mais árvores, o que você acha que vai acontecer?
- Daí a gente não vai mais ter caderno para estudar.
- Verdade, mas não é só isso. Precisamos das árvores para viver também. Quando você respira, solta um ar que as árvores precisam para viver, quando as árvores respiram, soltam um ar que você precisa para viver, ou seja, um não vive sem o outro.
- Agora entendi mamãe! Melhor a gente reciclar então para eu poder respirar.
- Isso aí meu filho, muito bom. Mas isso não é tudo, não adianta você reciclar se seus amigos não reciclarem. Todos precisamos fazer isso, mas sabe como a gente ensina as outras pessoas?
- Como mamãe?
- Dando exemplo.
 
(texto inscrito no concurso de minicontos da Unimed Vales do Taquari e Rio Pardo


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