23 de setembro de 2013

Gaian e o Exército de Anjos - Parte 5: Apenas um Sonho


Vislumbrando um maravilhoso pôr do sol sobre uma imensa planície que reluzia a cor avermelhada, estava lá, Isabela. Sentada de braços cruzados e apoiados em seus joelhos, ao lado de uma árvore de copa larga. A feição era de satisfação. O dia estava chegando ao fim, aliás, um dia que ela nunca irá esquecer. Gabriel, um rapaz de índole marcante, muito esforçado e com sede de justiça, havia passado o dia com ela. Aquele era o primeiro de muitos que estavam por vir. Isabela fora designada a acompanha-lo no seu treinamento, no futuro tomaria o seu lugar e lideraria o exército.

De longe avistava os seus conterrâneos, alguns caminhando, outros sentados, mas todos contentes, esbanjando alegria. O sentimento de pura liberdade emanava de suas auras. Não fazia muito tempo que aquela realidade parecia distante. A guerra que fazia daquele lugar um mar de sangue havia acabado a pouco mais de duas décadas. Isabela liderou a equipe de arqueiros, todos se doavam não somente em nome da Luz, mas também por ela, que desde as eras remotas inspirava a confiança de todos. Uma líder nata.

A guerra que um dia assombrou a todos, já passou, agora era hora de se prepararem para o futuro. Para que a paz e a liberdade fossem mantidas, todos precisavam estar prontos para qualquer possibilidade de reinvestida do inimigo. Assim que os novos líderes estiverem formados, Isabela e os outros terão o seu lugar ao lado daquele que representa a crença dos homens.

Quando decidiu erguer-se e tomar o rumo de seu lar, ouviu um estrondo além do horizonte. Devido ao sobressalto, todas as cenas da guerra, que nunca abandonaram sua mente, lhe passaram diante de seus olhos. Piscou algumas vezes, tentou acreditar que não passava de um susto. O que viu diante de seus olhos não ajudou. Uma onda gigantesca de poeira se alastrou e tomou conta do cenário. Quando percebeu, já estava em meio aquele acúmulo de detrito esvoaçante.

Tentou correr, para qualquer direção, procurando alguém para que, juntos, pudessem descobrir o que estava acontecendo. Não encontrou ninguém. Correu para um lado, depois para o outro. O desespero aumentava, a poeira começava a entrar por suas narinas e seu corpo começava a se entregar. Sua visão embaçou. Caiu. Tentou erguer-se, ficou de joelhos, mas não conseguiu mais do que isso. Neste momento alguém a encontrou e a acudiu. Com a visão ofuscada, encontrou muita dificuldade em ver quem lhe tomava em seus braços, sem forças, desmaiou.

Quando Isabela recuperou a consciência, abriu os olhos vagamente e se deparou em um lugar sombrio, estava deitada sobre uma manta de folhagens, o lugar parecia uma caverna minúscula. O teto era baixo, não poderia se erguer por completo. Viu uma fresta, estreita, não acreditava que tivesse entrado por aquele espaço, precisaria ter pelo menos um metro a menos de altura para transpô-lo. Levou seus olhos através daquele buraco, viu somente devastação. Olhou para os lados, procurando outra saída, não encontrou. O lugar só lhe trazia lembranças taciturnas. A guerra parecia ter voltado. O temor em sua face era evidente, sentia que algo precisava ser feito, mas mal conseguia ficar de pé. Lembrou-se de ter sido socorrida, não sabia por quem. Uma mão tocou seu ombro, era aquele que fora seu companheiro em diversas batalhas. Seu nome, Gaian. Pediu para que esperasse mais um pouco, não imaginou que ela o atendesse, pois a conhecia.

- Estamos reunindo as tropas, logo virei lhe buscar. – ele não deu tempo para a resposta, deu de ombros e sumiu.

A destemida guerreira ficou de pé, pelo menos o tanto quanto o lugar lhe permitia, quase voltou ao chão, desnorteada, insistiu. Voltou a procurar por uma saída, logo percebeu que aquela fresta era a única. Tentou aumenta-la a pontapés, sem sucesso, usou a força de seus braços. Insuficiente. Caiu sentada, não tinha forças para sair daquele lugar. Tentava imaginar se conseguiria fazer algo para ajudar os outros depois que dali saísse. Percebeu que o pó inalado não era somente de terra. Algo entrou no seu pulmão e a impedia de usar suas forças.

Gaian voltou, apareceu em suas costas, mas ela não se surpreendeu, sabia que ele podia fazer aquilo. Ela também poderia, mas não no estado em que se encontrava. Segurando-lhe a mão, o amigo a levou com ele, se materializaram em um campo, que parecia de concentração. Outros estavam por lá, visivelmente em estado mais crítico que o dela. Um refúgio cercado de montanhas, onde aquilo que os enfraqueceu não chegara.

Alguns que, assim como Gaian, conseguiam manter-se imunes a nocividade daquela poeira, corriam para todos os lados, trazendo cada vez mais seres debilitados. Recuperando aos poucos as suas forças, Isabela começou a ajudar aqueles que aparentemente mais necessitavam. Com certeza, já se podia perceber, que o acontecido era algo novo. Nunca passaram por aquilo. Até parecia cenário de batalha biológica, assim como acontecia com frequência no Mundo de Eliseo, a casa dos homens.

Um a um Isabela ajudava. Aos poucos se recuperavam, porém, o número de enfermos aumentava ao invés de diminuir. Ouviu-se outro estrondo, bem distante dali, semelhante ao primeiro.

- O que foi isso? – Pergunta Isabela assutada.

- Já é o quinto e ainda não sabemos. – Gaian respondeu e saiu na busca de mais feridos.

Aquela informação deixou-a atordoada, só ouvira dois deles, mas já fora o quinto. O enorme refúgio já começava a parecer pequeno demais. Olhou para os lados e só enxergava medo e desolação. Muito diferente do que lembrava ter visto a poucas horas. A satisfação de sentir a liberdade e ver o povo em paz, foi sucumbida por um temor sombrio que deixava a todos desesperançosos.

Repentinamente Isabela acordou. Viu-se deitada em sua cama, ao lado de seu marido, Roni. Estava ofegante, úmida de suor. Sentou-se na beira da cama e começou a refletir, percebeu que tudo não passava de um sonho, ou um pesadelo. Parecia ser tão real que ficou difícil eliminar de sua mente.

-Será que ao invés de sonho, seriam lembranças de uma vida passada? - perguntou a si mesma.

Balançou a cabeça em sinal de negativo. Disse para si, em pensamento, que eram ilusões devido a inúmeras tolices que o homem desconhecido havia jogado em sua mente, na noite anterior.

Observou o relógio que estava na cômoda ao lado de sua cama, eram cinco horas da manhã. Levantou-se, pegou o roupão que estava dependurado na cabeceira da cama e cobriu a camisola de cetim que vestia. Dirigiu-se ao banheiro, lavou o rosto e por um minuto, permaneceu ali, imóvel, observand-se. Não sentia mais sono.

Foi até a cozinha, abriu a porta da geladeira, deu uma rápida olhada e pegando um prato de porcelana, cortou um pedaço da torta que Roni havia feito no final de semana. Percebeu que não tinha paladar, não sentiu o gosto doce daquilo que ingeriu. Pegou um copo d’água para aliviar a secura de sua garganta. Voltou ao quarto, deitou-se na cama e tentou voltar a dormir. Permaneceu com os olhos abertos, talvez por medo de voltar a ver aquele cenário de guerra, olhava para o teto, tentava não pensar em nada. Não conseguia.









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Ficarei grato e saberei se estou indo bem, afinal somos todos aprendizes e aguardamos o retorno daqueles que nos cercam para saber o caminho a tomar.








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