2 de dezembro de 2011

Gaian e o Exército de Anjos - Parte 4: A Revelação

Isabela, deitada confortavelmente em sua cama, olhava para o seu marido, deitado ao lado. Roni dormia como uma criança, um dia cansativo de trabalho somado aos episódios daquela noite, os deixara exaustos, mas, apesar disto, Isabela não conseguia conciliar o sono.

Ela poderia apenas esperar pelos resultados da investigação, mas algo lhe dizia que o detetive Lazareno não obteria respostas satisfatórias para os fatos ocorridos. E o que seria ainda pior, na intenção de encontrar um culpado, ela é que serviria de bode expiatório para cobrir o acontecido, mesmo que não tivesse motivos para tal. Aquele cadáver que recebera, com certeza era de uma importância que ela não podia imaginar, pois se não bastasse ele ser de interesse da Segurança Nacional, fora roubado por aquela mulher e não tardou a receber outros visitantes interessados nele.

Devido a essa importância, o detetive poderia “encontrar” um motivo plausível para que ela mesma tivesse causado o desaparecimento daquele corpo e todo aquele transtorno, talvez até julgassem que seu marido pudesse ser seu cúmplice. O nervosismo dele durante o depoimento poderia ser o suficiente para afirmar tal absurdo. Apesar de não ser verdade, seria difícil Isabela provar o contrário, portanto a preocupação dela com o caso só aumentou.

Pensar em uma explicação para o ocorrido era o que ocupava agora a mente da doutora, mas encontrar tal resposta já era algo muito longe de seu alcance. Isabela lembrou-se da forma como fora surpreendida por aquela gente estranha; primeiro a mulher que levou o corpo, depois os homens que mataram os agentes federais e devastaram o laboratório. Como se isso não bastasse, quando pensou que a sucessão de fatos bizarros havia findado, mais uma vez a surpreenderam. Desta vez, porém,  fora para ser socorrida, por aquele desconhecido que apareceu do nada.

Lembrando-se daquele homem, Isabela recordou o que ele havia dito, sobre passar em sua casa, naquela noite, para uma viagem. Embora a frase soasse um tanto estranha, até mesmo fantasiosa, ela, contrariando sua natureza cética, acreditou nele. O que importava para ela, era a promessa que o estranho havia feito, de lhe dar as respostas que precisava para acalmar a sua mente. No entanto, a sensação de que suas dúvidas só aumentariam, sem falar dos problemas que teria com sua família, por um estranho a tirar de casa no meio da noite, persistia fazendo com que seu peito afundasse em desespero.

- Para esta viagem, não precisarei lhe tirar de seu quarto. – a voz calma do tal estranho se fez ouvir pelo quarto.

Surpreendentemente o homem apareceu sentado em uma cadeira, no canto do quarto, como se a estivesse observando há horas.

- Você aqui? – apesar de estar assustada de morte, Isabela forçou sua voz sair, num murmúrio esganiçado. Ela levantou-se bruscamente, preocupada em não acordar o esposo, virou-se para ele a fim de constatar que permanecia imóvel.

Tentando controlar seu medo e assombro, voltou seus olhos perspicazes para seu visitante.

- Porque a surpresa? - pergunta o estranho - Eu lhe avisei que viria, para lhe trazer as respostas que tanto anseia – explicou conciso.

- Em primeiro lugar, quero saber quem é você. Como me conhece? Como sabe onde trabalho e moro?
Além disso, como sabe quais as respostas que procuro? - Isabela não deu tempo para o homem responder as perguntas feitas e logo lançou mais algumas - Me diga como você faz isso de sumir a aparecer sem mais nem menos e desde quando está aqui dentro? – Ela estava agitada, era visível seu desconforto ante aquela situação inusitada.

- Hãh... A qual indagação devo responder primeiro? - perguntou ironicamente o homem às sombras.

- Comece por qual quiser, apenas responda rápido, antes que eu acorde meu marido e ligamos para a
polícia. – ameaçou.

- Acalme-se doutora, sou apenas um velho amigo seu. Alguém que você conheceu há muitos anos atrás. – disse confiante.

- Amigo? Seu rosto não me é nenhum pouco familiar. Tenho certeza de nunca tê-lo visto antes dessa noite - respondeu convicta.

- Isabela? É assim que lhe chamam agora, verdade? - perguntou-lhe o estranho.

- Sim, esse é meu nome. Não me surpreende que saiba disso, depois de tudo que já me revelou saber. Mas se engana por pensar que já tive outro nome, Isabela é o meu nome de batismo, o carrego desde que nasci.
– argumentou com firmeza.

- Sim. Não foi isso que quis dizer. Isabela é seu nome desde que nasceu, mas isto na sua forma humana. – foi a resposta intrigante que ele lhe concedeu.

- Você deve estar louco. Forma humana? E que outra forma eu poderia ter? Você deve ser adepto daquelas religiões que acreditam em reencarnação. Nem sei como ainda permito sua presença em meu quarto.

- Bom, vai ser mais difícil do que imaginei. - o homem apoiou seus cotovelos sobre os joelhos, deixando as pernas entreabertas e levando seus olhos para o chão entre elas. - Vou tentar explicar de outra maneira.

- Melhor que seja convincente. Sou estudante de ciências, apesar de ser de família cristã, não acredito em divindades ou qualquer coisa do tipo, porém estou disposta a ouvir o que tem a dizer. Depois do que presenciei nas últimas horas acredito que há muitas coisas que eu ainda não tomei conhecimento. – ela apertou os dedos trêmulos no colo, assumindo uma postura de quem, de fato, estava pronta para ouvir.

- Isso já é um começo. - neste instante, o homem respirou fundo e começou - Vou começar me apresentando, me chamo Gaian, sou um anjo que batalha ao lado da Luz. Ah, como vocês chamam mesmo? – ele parou para pensar por 1 segundo antes de voltar seus olhos cristalinos para ela – Deus! – disse como se isso resumisse tudo.


- Um anjo? - os olhos de Isabela neste momento se arregalaram, pestanejou algumas vezes e encarou o homem - Eu imaginei que ouviria coisas estranhas hoje, mas minha imaginação é pouco fértil, não chegou a tanto, desculpe se não acredito nisso – seus olhos brilhantes e inteligentes o fitaram incrédulos.

- Sim. Sou um anjo. E você me conhece muito bem, ou melhor, me conheceu. – ele insistiu.

- Você está querendo dizer que... - o homem a interrompeu, erguendo-se da cadeira, aproximando-se dela.
Isabela o fitou temerosa, não sabia como deveria reagir a aproximação dele. Paralisada o viu erguer a mão de dedos longos até seu rosto. Tocou-lhe a bochecha com a palma da mão, e firmou seus olhos nos dela.

- Falei que te levaria para uma viagem – sua voz tranqüila soou muito próxima – Lembre-se – ordenou, então um calor súbito desprendeu-se da mão dele, fazendo com que ela se sentisse aquecida, não só na face, mas por todo o corpo.

Isabela fechou os olhos como que por instinto e de súbito teve sua mente invadida por milhares de imagens desconexas. As suas visões a levaram para um lugar que poderia ser chamado de paraíso, tudo era mais belo do que qualquer lugar que já possa ter visto ou sequer imaginado. Todos viviam felizes naquele lugar e em harmonia. De repente suas visões a levaram para um lugar sombrio e devastado, onde os seus moradores sofriam constantemente e nunca podiam ficar em paz nem consigo mesmo.

- Estes dois lugares que você viu, Isabela, acho que não preciso falar sobre eles. - o homem tirou a mão de sua face e Isabela abriu os olhos, suspirando nervosa.

- Porque eu acreditaria em você? Por mais que estas visões me parecessem reais, eu já fui vítima de pessoas que dominam a mente e criam ilusões. Era um poder que eu não levava crença, mas me provaram o contrário. – ela relutava a aceitar aquilo como verdade. – Além do mais, em nenhum momento sequer eu me vi nestas visões, e pelo que você disse... – e o homem voltou a interrompê-la, recolocando a mão em sua face.

- Acreditando ou não, um dia você lembrará o tempo em que esteve nestes lugares. Só espero que não seja tarde demais, pois precisamos de você nesta guerra.
Então Isabela se viu no tal lugar belo que vira na visão anterior, com ela, mais algumas pessoas, todos transmitiam a paz através de suas feições. Por mais uma vez se viu, ao invés de um ambiente repleto de ternura e paz, viu o sofrimento e a amargura em um lugar ambientado com diversas caveiras, a morte estava ali.

- Se você está falando a verdade então porque não me lembro de nada disso, agora me vi nestas visões, mas ainda encaro isso como uma ilusão.

- Te dar mais detalhes só lhe trará confusão agora. O que precisa lembrar não está em sua memória, mas em seu coração. Quando se lembrar não restarão dúvidas, apenas certezas. – seus olhos baixaram para seu peito, como se ele pudesse ver o que se passava em seu intimo.

- Poderia então me dizer o que aquele cadáver tem haver com tudo isso? Aquelas pessoas que o querem tanto, também são anjos? – ela precisa saber que não estava louca, muito menos que havia imaginado tudo aquilo.

- Quando se lembrar de tudo, você entenderá. Só quero que se atente a uma coisa agora, só você nos viu. As filmagens do laboratório não foram editadas, foi só a maneira que o policial encontrou de explicar a vocês o que não conseguiram ver, para eles não havia ninguém naqueles vídeos, além de você e dos agentes – ele explicou calmamente.

- Quer dizer que vocês são invisíveis para os outros? - perguntou Isabela tentando, a todo custo, acreditar no homem.

- Só quando queremos. E até ontem você também não podia nos ver, mas algo mudou no seu espírito. Por isso não conseguimos nos esconder dos seus olhos.

- Huum... Ainda acordada Isabela? - murmurou o seu marido.

Isabela virou-se, preocupada, para olhá-lo. Vendo que ele ainda dormia suspirou aliviada, voltou para o tal anjo, mas este já não estava mais ali. Sumiu como da última vez.

A doutora deitou-se e, por um instante, refletiu se tudo aquilo seria verdade. Estava certa quando presumiu que suas dúvidas aumentariam se o tal homem aparecesse. Perguntou a si mesma, em voz alta:

- Seria ele um anjo realmente? – inquiriu ao vazio.

- O que foi que disse querida? - perguntou o marido sonolento, sem ao menos abrir os olhos.

- Nada meu amor, volte a dormir. Eu farei o mesmo – disse, rogando para que pudesse realmente dormir por algum tempo. Quem sabe assim, pudesse esquecer toda a loucura que tinha enfrentado naquele dia e, ao acordar pela manhã, percebesse que tudo isso era apenas um sonho.


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